METEORO QUE EXTINGUIU 83% DAS ESPÉCIES DA TERRA PODE TER CAÍDO EM MATO GROSSO.

Cratera em Mato Grosso pode ser prova da maior extinção em massa no planeta.

Há 250 milhões de anos, queda de meteorito pode ter levado à extinção de 83% das espécies. Se a teoria for comprovada, o Brasil estaria, pela primeira vez, no centro dos grandes eventos geológicos mundiais.

O impacto de um meteorito na região onde hoje fica o município de Araguainha, no interior do Estado de Mato Grosso, pode ter levado a uma sequência de eventos geológicos que teriam causado a maior extinção em massa da Terra..

Uma pesquisa científica internacional levantou uma nova hipótese para justificar a extinção até agora sem explicações. Esse desaparecimento definitivo de espécies aconteceu há 250 milhões de anos, entre o período Permiano (último perído geológico da Era Paleozóica) e o Triássico (primeiro período da chamada Era Mesozóica), e é considerado o mais importante desde o surgimento da vida no planeta, há 541 milhões de anos.

O estudo teve início na década de 1990 com a participação de geólogos da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), da Universidade Estadual de São Paulo (Unicamp), da St. Andrews University, no Reino Unido, e da University of Western Australia.

Conforme os pesquisadores, a queda do meteorito em Araguainha não causou impacto suficiente para ameaçar a vida no planeta, já que formou uma cratera de “apenas” 40 quilômetros de diâmetro – relativamente pequena se comparada à cratera de 180 quilômetros de diâmetro no México, resultado da colisão de um asteroide com a Terra que teria levado ao desaparecimento dos dinossauros, há 65,5 milhões de anos.

Porém, outros fatores que se seguiram ao impacto do meteorito em Araguainha teriam ampliado seu efeito para todo o hemisfério sul da Pangeia (continente que existiu até há 200 milhões de anos e no qual todos os atuais continentes estavam unidos).

“Araguainha foi um impacto importante, embora não tenha tido uma magnitude tão grande quanto os outros impactos que você espera que possam levar à extinção diretamente. Mas a gente tem evidências de campo de que o evento de Araguainha gerou terremotos de grande magnitude ao longo da Bacia do Paraná”, esclarece Ricardo Trindade, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Trindade aponta que o impacto do meteorito causou uma sequência de terremotos de magnitude até 9,9 na escala de Richter (na qual a magnitude máxima é 10), afetando um raio entre 700 e 3 mil quilômetros do lugar da queda. Os tremores de terra teriam partido as rochas da Formação Irati, que existe sob a Bacia do Paraná, ricas em metano e dióxido de carbono. Com a fratura, cerca de 1.600 gigatoneladas desses gases teriam sido liberadas na atmosfera da Terra, cinco vezes mais do que já foi liberado desde a Revolução Industrial.

“Nós encontramos feições geológicas na Bacia do Paraná inteira, desde lá do norte, perto de Goiás, até São Paulo, com os efeitos que caracterizam esses tremores. A África e o Brasil estavam juntos nessa época, então foi um evento que com certeza afetou as bacias dessas regiões”, explica Cristiano Lana, professor da Ufop.

O efeito estufa repentino causado pela alta concentração de metano e dióxido de carbono na atmosfera teria ocorrido ao mesmo tempo que a erupção de diversos vulcões na Sibéria. Juntos, os dois eventos teriam levado à extinção de até 90% das espécies marinhas e 60% das terrestres. Plantas e répteis chamados de Mesossauro, os antepassados dos dinossauros, também morreram massivamente.

Os seres marinhos foram os mais afetados porque o carbono (CO2) dilui mais rapidamente nesse meio. Entre eles, estariam estrelas-do-mar, caramujos e répteis marinhos. Estima-se que 99% das espécies de plânctons também tenham desaparecido.

Novidade levanta questionamentos

Embora a cratera de Araguainha seja a maior da América do Sul e uma das 20 maiores do planeta, os pesquisadores não tinham ligado o evento à extinção de vida que aconteceu no fim do período Permiano. Isso porque a última datação, feita na década de 1990 pelos pesquisadores alemães Konrad Hammerschmidt e Wolf von Engelhardt, apontava 10 milhões de anos de diferença entre a queda do meteorito e o desaparecimento das espécies.

Foi somente depois de reavaliar a datação que os pesquisadores começaram a desconfiar de uma possível ligação entre os dois eventos: em 2012, o pesquisador Eric Tohver, da University of Australia, determinou com uma equipe que a cratera de Araguainha tinha 254,7 milhões de anos, com uma margem de erro de 2,5 milhões de anos tanto para cima como para baixo.

Por outro lado, os próprios autores do estudo reconhecem que, para ter certeza que os períodos coincidem, os métodos de análise ainda precisam ser refinados.

O geólogo Alvaro Penteado Crósta, professor da Universidade Estadual de Campinas, que pesquisa a cratera de Araguainha desde a década de 1970, discorda da nova teoria apresentada. “Não há evidências suficientes de que seria possível liberar uma enorme quantidade de [gás] metano a partir de sedimentos ricos em matéria orgânica em decorrência de eventos sísmicos”, afirma.

Segundo Crósta, é mais provável que a grande extinção tenha ocorrido em fases diferentes, que podem ter envolvido diversos fatores, como mudanças climáticas graduais, vulcanismo, impacto de diversos meteoritos, liberação de metano do fundo do oceano e falta de oxigênio.

Para o professor Wolf Uwe Reimold, do Museu de História Natural de Berlim e especialista em impactos de crateras na superfície terrestre, a ligação entre o impacto do meteorito e a liberação dos gases também ainda precisa ser confirmada. Mas, mesmo assim, ele considera o novo estudo sobre Araguainha um divisor de águas: “A ideia é bem-vinda, assim como o ímpeto que ela vai dar aos cientistas que estudam o período Permiano, aos especialistas de várias áreas, sismólogos, pesquisadores sobre crateras e impactos, geologistas e paleontologistas que irão agora avaliar essa hipótese”, aponta Reimold.

Ameaças ao planeta

Até o momento, apenas uma das extinções de massa da história da Terra teve as causas comprovadas – ou, pelo menos, é a teoria mais aceita no mundo. No período Cretáceo, há 65 milhões de anos, a queda de um meteorito na região Chicxulub, na Península de Yucatan, no México, aliada à atividade vulcânica da região de Deccan, na Índia, teria dizimado 60% da vida do planeta e levado ao desaparecimento dos dinossauros.

Crósta aponta que catástrofes como esta acontecem somente a cada 80 milhões de anos, aproximadamente. Para Reimold, os meteoritos, corpos sólidos que podem chocar com a Terra, apresentam um risco estatisticamente baixo à vida no planeta, mas real porque são o único fenômeno catastrófico natural com energia suficiente para ameaçar a vida. “Conhecer a órbita deles e sua composição interna é extremamente importante se quisermos ter uma chance de nos proteger e prevenir com antecedência, encontrando formas de talvez destruir ou desviar o projétil”

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